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Lula, gato escaldado. 

01 de dezembro de 2023. 

Reclama-se que Lula dê preferência aos advogados que lhe prestaram serviços e aos mais leais escudeiros, quando indica componentes para o Supremo Tribunal Federal. Mas, não se poderia esperar outro comportamento de quem, ao adotar um critério diferente, o da diversidade, encarou Joaquim Barbosa. Lembram? Lula obedece os ditos populares: “Seguro morreu de velho”, e “Gato escaldado tem medo de água fria”. 

Joaquim Barbosa foi escolhido por Lula e se tornou estrela de primeira grandeza quando Roberto Jefferson derrubou a porta do Palácio do Planalto e jogou alguns velhos companheiros pela janela. Lula quase foi. Por um fio, Lula sobreviveu. O histrionismo de Joaquim Barbosa levantou a nação brasileira e ela empurrou as decisões de todos os demais ministros da corte. De quase todos. Quem ousou argumentar contra as teses meio doidas de Joaquim Barbosa, apanhou do povo. Joaquim Barbosa foi o Zorro. Gilmar Mendes, o Capitão Garcia.  

Mas, se não bastasse ao Lula a figura do Joaquim Barbosa, ele tem o exemplo do antecessor Jair Bolsonaro, que indicou dois ministros para compor o Supremo Tribunal Federal e o resultado está posto. Os dois nem parece que foram indicados por ele.  

Lula aprendeu. Ele sabe que na Constituição Brasileira ( artigo primeiro, parágrafo único), todo o poder emana do povo e por ele é exercido diretamente ou por intermédio de seus representantes, para os agentes isso se dá de modo diferente. Para eles, todo o poder emana do Supremo Tribunal Federal e é, pelos ministros, exercido diretamente, sem representantes. Lula tem consciência disso e não precisa que os ministros Barroso e Gilmar fiquem repetindo isso como uma ladainha. 

O tempo passou e Joaquim Barbosa converteu-se à seita do Lula. Uma conversão tardia, que Lula desprezou por ser totalmente inútil. Lula tem noção de utilidade. Sabe como usar as pessoas em seu próprio benefício. E como sabe…

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O MOVIMENTO “MSB”. 

14.11.2023. 

Eita! Vejam só a notícia publicada na primeira página do jornal Estado de São Paulo, no domingo: 

“Na elite da era espacial, a Índia, país das startups, sofre com falta de banheiros. Parte da população de 1,4 bilhão de pessoas no país das startups faz suas necessidades a céu aberto. O pouso na face oculta da Lua, realizado em agosto pela missão Chandrayaan-3, colocou a Índia na elite da corrida espacial e a inseriu num mercado que deve movimentar US$1 trilhão em 2040. Mas, no país de 1,4 bilhão de habitantes, que tem 90 mil startups e mais de 100 empresas unicórnio – aquelas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão antes de abrir capital em bolsas de valores -, grande parte das pessoas mora em favelas, não têm acesso a banheiros e faz suas necessidades a céu aberto, informa o enviado especial Felipe Frazão. Em 2014, o governo lançou um plano para erradicar a prática, mas ela não foi extinta. Nas cidades de Agra, Nova Délhi, Faridabad e Hyderabad, o Estadão viu fezes humanas em calçadas e testemunhou pessoas urinando na beira da estrada.” 

Há, na Índia, de fato, 1 bilhão e 400 milhões de habitantes e 20 línguas diferentes. Novecentos milhões são eleitores e usam urnas eletrônicas com emissão de comprovante de voto. Um traço feito num dos dedos dos eleitores, com uma tinta que não se consegue tirar antes de 30 dias,  impede que eles votem mais de uma vez. E tem mais, para o exercício da soberania popular: a Comissão Eleitoral garante a existência de urnas eletrônicas a uma distância de pelo menos 2 quilômetros de cada comunidade, obrigação que implica o uso de uma logística dificílima, que envolve camelos, jumentos e escaladores de montanhas, mas que mesmo assim é rigorosamente observada.  

A democracia é, portanto, o regime vigente sustentado por um sistema parlamentarista bicameral. O povo escolhe pelo voto direto os membros das duas câmaras e parlamentares regionais, que juntos decidem quem preside o país. Na eleição de 2020 foi eleita uma mulher, Draupadi Murmu, a primeira oriunda de uma comunidade tribal. 

Então, está certo o autor da matéria. A população local prefere ir à Lua a ter banheiros e dá aos governos a obrigação de construir banheiros.  

Em 2014, diz a matéria, o governo instalou 100 milhões de banheiros para beneficiar 600 milhões de pessoas. Um banheiro para cada seis seres humanos. Tem-se, então, que para atender com banheiros os 157 milhões de habitantes, que cagam e urinam nas ruas e estradas, serão necessários pelo menos mais 26 milhões de banheiros. Ocorre que na Índia nascem, por ano, 23 milhões de pessoas, dado que exigirá do governo a construção de pelo menos 3.800.000 banheiros a cada ano. Na rotina dos gestores públicos brasileiros, mais de 3 milhões, quase 4, de oportunidades para inaugurações com corte de fitas. 

O Partido dos Trabalhadores teria lá um campo fértil para atuação, sendo oposição ou sendo governo. Como oposição poderia estimular a criação do MSB, Movimento dos Sem Banheiros. Se governo, teria a chance de criar o “Meu Banheiro, Minha Vida” e uma campanha publicitária: “Cagar e mijar com dignidade”, slogan em cores vermelhas e exibido numa bandeira com o número 13 estampado no centro. 

Deixo aqui a contribuição para o povo indiano. 

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Adélio e Ronnie Lessa. A lei da compensação. 

29.10.2023. 

Só recentemente assisti ao documentário “Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho”, obra da Globoplay, que estreou há mais de um ano, no dia 29 de abril de 2022, quando se deu a largada na disputa pela Presidência da República. Os autores do trabalho levam os espectadores para um ambiente onde estão ligados o jogo do bicho, as milícias, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o filho dele, Flávio e o assassinato da vereadora Marielle Franco. Só no final, fica-se sabendo que o documentário representa uma homenagem à vereadora.  A percepção é de ser um documentário propositadamente exibido no tempo da campanha presidencial para influenciar o resultado. 

Desconheço se naquele momento a Justiça Eleitoral foi provocada para impedir a veiculação do documentário, mas se foi e decidiu deixar correr, fez bem, pois observou o que diz a Constituição Brasileira, que registra, expressamente: “É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. De modo diferente, no entanto, decidiu a Justiça Eleitoral, quando o canal Brasil Paralelo anunciou o documentário, “Quem mandou matar Jair Bolsonaro”. O TSE proibiu a exibição até a proclamação do resultado da eleição e puniu o canal com a suspensão do fluxo financeiro que o mantém de pé. É dispensável dizer mais qualquer coisa para entender as frases polêmicas, “perdeu mané” e “vencemos o Bolsonarismo”.  

“Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho” dá sentido às tormentas do povo carioca com as milícias. Nele se vê materializada a coragem de uma mulher que não mediu riscos para interromper a valsa livre nos salões da elite carioca da turma que comanda o jogo do bicho. A sentença de Denise Frossard sacudiu a hipocrisia da elite e da classe política carioca, mas não deu jeito nela. Aí estão as milícias a frequentar os mesmos salões. O documentário não toca no tráfico de drogas. Sabe-se lá o motivo.

“Quem mandou matar Jair Bolsonaro” foi exibido após a proclamação do resultado da eleição para a Presidência da República, como desejou a Justiça Eleitoral. A dúvida sobre o mandante do assassinato do candidato à Presidência dá sentido ao documentário e faz o contraponto com outra interrogação: quem remunerou Ronnie Lessa, o matador de aluguel, para que ele assassinasse a vereadora? 

No fim das contas, os dois documentários se compensam e em conjunto explicam como funcionam no Brasil, a Justiça, os crimes e a investigação quando se misturam com a política. É a lei da compensação, que o povo brasileiro ainda não compreende como funciona.  O confuso escritor Ralph Waldo Emerson, pelo menos nisso mostrou convicção: “Tudo na vida e na natureza gira em torno da dualidade e se compensa”. Nada melhor do que isso para um povo que se sente bem num ambiente polarizado. 

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“Picadeiro de qualidade”

02.10.2023.

De novo? Novamente, o governo federal aparece com um programa para combater as organizações criminosas, o Enfoc, que prevê R$900 milhões em investimentos para atuação em cinco eixos principais: “integração institucional e informacional; eficiência dos órgãos policiais; portos, aeroportos, fronteiras e divisas; eficiência da Justiça Criminal e cooperação entre União, Estados, Municípios e órgãos estrangeiros.”  E há um tempo estabelecido para a apresentação das metas, investimentos e estratégias: 60 dias. Não pode ser algo sério. Por que não entregam o pacote completo? Porque pode ser que em 60 dias, a onda já tenha quebrado na praia e o governo dedique seu tempo a outros temas mais caros a ele, como acontece com a rotina de nomear e exonerar gente para a máquina pública. 

Tomei conhecimento do projeto ao ler ontem, domingo, o Estadão. O editor deu à notícia destaque na primeira página e pelo modo como construiu a manchete, ele também não acredita que o programa tenha algum resultado. Ele escreveu: “Pressionado, governo lança plano para tentar conter facções”. O “tentar” diz tudo sobre a esperança do editor no sucesso da proposta. O “pressionado”, mostra o modo como funciona um governo que não planeja. Ele não está sozinho. O histórico de programas e projetos que visam só tirar a União do tema não autoriza o crédito. 

O Ministro Super-Herói, Flávio, o Dino, para rebater as críticas que tem recebido afirmou que no pouco tempo em que está na equipe do Presidente Lula conseguiu reduzir as armas, desmontar o garimpo ilegal e tem dado apoio às vítimas de violência. Citou também a visita que fez a 21 estados para entregar equipamentos e liberar recursos para os governadores. Não dá para levar isso a sério! 

Bem que Deus avisou que a relação entre os agentes do Estado e a sociedade seria desse modo, mas ninguém quis ouvir. Disse Deus, quando respondeu ao desejo do povo de Israel de ter um rei: “Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós: (…). Ele tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais, e os dará aos seus servos. E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais (…)”. Ao Estado tudo; à sociedade, a conta. 

Thomas Hobbes deu ao Estado a representação correta de um monstro marinho, o Leviatã,  que no livro de Jó está descrito com um alerta: “Eis que é vã a esperança de apanhá-lo; pois não será o homem derrubado só ao vê-lo? Ninguém é tão atrevido, que a despertá-lo se atreva…”(Jó 41: 9 e 10). Para Hobbes o Estado só tem uma finalidade, uma só: garantir a segurança de quem renunciou a muita coisa para poder dormir em paz. Quando o Estado não garante a Segurança Pública – diz Hobbes – ele rompe o contrato que tem com a sociedade que, então, fica liberada para não cumprir a parte que lhe cabe. Quem dera, pudéssemos agir assim. Por aqui, nem criticar se está mais autorizado. Confrontado, o agente do Estado responde: “Perdeu mané. Não amola!”. 

No Brasil, com relação à segurança vivemos no “Estado de Natureza”, definido por Hobbes, onde o desejo e a força são suficientes para a satisfação de todas as vontades dos indivíduos. Tempo vai, tempo vem, e ninguém na União move uma palha para, de verdade, melhorar a qualidade das polícias, das investigações e desarmar os criminosos. 

O lançamento do programa ENFOC será só mais um dia de espetáculo no picadeiro montado em Brasília, pois a União foge às léguas da obrigação que deveria ter. Flávio, o Dino, deixou claro: “O governo não concorda com teses absurdas que propõem a federalização da segurança pública em todo o país”. Para a União quase todos os crimes são estaduais. Federais são somente aqueles ainda não tipificados pela lei, chamados de atos golpistas e antidemocráticos. 

Flávio, o Dino, encerrou a entrevista na CNN Brasil com uma pérola: “Para melhor aquilatar o que isso significa, sugiro comparar com outros momentos do Ministério da Justiça, onde criminosos lá habitavam ou eram lá protegidos…”. Desnecessário comentar.  

A União abriga malabaristas, engolidores de fogo, palhaços e trapezistas. Por isso, defendo que “O Circo”, uma das belezas compostas por Nara Leão, seja o nosso Hino Nacional. Faz mais sentido, no momento, que o louvor à liberdade composto por Duque Estrada.  

Enfim, sigamos.  

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Como fazer para ter mulheres na política? 

25.09.2023. 

A resposta parece algo a merecer estudos sociológicos, antropológicos, filosóficos e bem mais. Não é. Basta que os partidos respeitem o que está determinado no artigo 4o da Lei dos Partidos Políticos, promulgada no dia 19 de setembro de 1995 (9.096), portanto, há 28 anos, tempo suficiente para ser entendido com clareza, mesmo pelas pessoas de pouco entendimento. Lá diz: “Os filiados de um partido político têm iguais direitos e deveres”. Mas, a gente sabe que não têm, por uma série de subterfúgios utilizados pelos donos de fato dos partidos, em contraponto aos donos de direito, os filiados. 

Se deixarem as mulheres em pé de igualdade nas convenções partidárias, elas farão o que têm feito em outros campos da atividade humana: ocuparão os espaços sem precisar da caridade dos homens. 

Faz tempo, gente, que não se tem convenções democráticas seja para o que for e menos ainda para escolha dos candidatos que os partidos apresentam aos eleitores. Por isso, os legisladores ficaram livres para instituírem, como se fossem atos de caridade, o que chamam de cotas, uma discriminação velada. 

Pois que, com convenções democráticas, onde todos os filiados, sem discriminação seja pelo que for, teriam o mesmo direito de voltarem e serem votados, o comando dos partidos precisariam reverenciar os filiados para deles obterem o voto. A alternativa seria fecharem a porta de entrada dos partidos para quem desejasse filiação e não lesse na mesma cartilha contudo esse tipo de controle, já se sabe, nada garante quando o poder, seja onde for, esteja em disputa.  

Os partidos políticos são bancados pelo dinheiro dos contribuintes, portanto, nada de mais ou de menos seria exigir deles normas claras e transparentes para filiação, pois que quem paga a conta tem todo o direito de participar das decisões, eis aí uma diferença entre a ideologia reinante e a desejada se queremos ser, de verdade, uma democracia. 

Toda vez que me vejo obrigado a consultar a legislação que norteia os partidos políticos, tendo presente o fato de existir por aqui um tribunal com atribuição específica para cuidar do assunto, questiono a necessidade de cotas e de outras invenções legais que só servem a um propósito: manter o comando dos partidos nas mãos de gente que só usa o número de filiados como estatística. 

Eis uma prática que não precisa ser reformada, mas, simplesmente, cumprida, repito: “Os filiados de um partido político têm iguais direitos e deveres”. 

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LULA VOLTOU SEM TER IDO. 

06.09.2023

A revista VEJA da semana tem Lula na capa, curvado pelo peso da estrela do PT. A manchete é: “Carga Pesada”. A ilustração resume o blá,blá,blá da matéria assinada por Daniel Pereira. Ela é o enredo de um filme repetido: o Partido dos Trabalhadores está a correr atrás de carguinhos que paguem bem sem exigência de concurso, mérito e responsabilidade. 

Lula, o presidente de agora é o Lula de outrora, o Partido dos Trabalhadores também, os sindicatos, idem. Em setembro de 2003, quando completou nove meses na primeira passagem dele pela Presidência da República, Lula deu um recado aos sindicatos, num discurso que fez em São Bernardo do Campo. Ele vociferou: “A CUT não está no governo como apêndice. A CUT está no governo como força determinante do que o governo pode fazer. A CUT tem que ter a consciência de que pelo menos um terço do governo é de ex-dirigentes da CUT. A CUT é uma das razões da minha chegada à Presidência.” Em pauta, a fome da CUT e da Força Sindical por cargos no governo. Lula toureou e depois cedeu. 

O trecho do discurso está em uma matéria publicada pela Revista Conjuntura Econômica, em setembro de 2003, que eu guardo nos meus arquivos. Lula está na capa em posição de aplauso encabeçando a manchete: “A República Sindicalista do Brasil”, matéria assinada pelo jornalista Vitor Nuzzi, de quem li “Geraldo Vandré, uma canção interrompida”, uma leitura, sem dúvida, mais agradável do que a matéria feita por ele para a Conjuntura. 

Lula este mês completou nove meses à frente do governo, onde está pela terceira vez. Surge, então, a Revista VEJA com a ganância do PT. Santo Deus! O Pregador tem razão: “O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.” (Livro de Eclesiastes – 1:9). 

Como estou a tratar de capas e matérias sobre Lula, eu relembro a de novembro de 2006, da VEJA, momento em que o presidente foi reeleito pela decisão soberana do povo: “A ÚLTIMA CHANCE. O PRIMEIRO MANDATO DE LULA FOI PÍFIO E AGORA ELE TEM MAIS 4 ANOS PARA DEIXAR UM LEGADO DE GRANDEZA”. Deixou Dilma Rousseff, que o povo reelegeu 4 anos depois. 

Não é de se perguntar? Por que diabos colocaram o cara lá, novamente? 

No endereço: www.youtube.aquitudoepolitica.com.br eu estico essa conversa. Ando precisando de inscritos no canal. 

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Pesquisa Quaest. Instituições. 

23.08.2023. 

Durante a semana, o Instituto Genial Quaest divulgou o resultado de uma pesquisa sobre a reputação de várias instituições públicas e a imprensa destacou os dados sobre as Forças Armadas, para usar a informação como crítica a Jair Bolsonaro. Foram ouvidas, presencialmente, 2.029 pessoas, entre os dias 10 e 14 de agosto, com margem de erro de 2,2%. 

Antes de avançar na leitura das notícias, fui ao site do Exército Brasileiro e lá encontrei a notícia sobre pesquisas qualitativas e quantitativas realizadas pela Força, com resultados bem diferentes do que os apurados pela Quaest, mas tive dificuldade para saber o exato momento das pesquisas e mesmo ter acesso ao resultado delas. 

A pesquisa Quaest pesa mais contra o Supremo Tribunal Federal, contra o Congresso e partidos políticos do que contra as Forças Armadas e não encontrei os caminhos que pudessem me levar a concluir, como fez a imprensa, que o desgaste na imagem positiva das Forças Armadas tenha ligação direta com o movimento de 8 de janeiro em Brasília, com o caso das jóias ou com qualquer outro evento vinculado diretamente com a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro. Tentei acesso a mais detalhes da pesquisa e fui ao site do Instituto. Nada mais alcancei além do que me foi apresentado pela imprensa. 

Uso aqui como fonte de comentários, o jornal do Canal UOL e a matéria do Estadão. As palavras da âncora Fabíola Cidral do Portal UOL disse:  “Falando sobre a imagem dos militares, saiu uma pesquisa interessante, Genial Quaest…A confiança nas Forças Armadas caiu de forma expressiva. Olha só como caiu. Esse levantamento mostra que caiu de 43% para 23%…33% sobre quem confia muito nas Forças Militares…Esse foi o grande destaque da pesquisa.(…) E aí não está só o caso das jóias. Acho que tem outros episódios. Principalmente, o oito de janeiro…”. O Estadão caminha sobre a mesma estrada e acrescente declarações do comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, que promete medidas para melhorar os salários e benefícios para as famílias dos militares, com o objetivo de reduzir o desgaste divulgado pela imprensa. Uma postura bem ao estilo dos sindicatos. 

Os gráficos com os resultados foi exposto pelo canal, enquanto os âncoras e Tales comentavam. Os resultados mostram linhas que informam as imagens positivas (em azul) e negativas ( vermelho) das instituições: Polícia Militar, Igrejas Evangélicas, Igreja Católica, Militares/Forças Armadas, Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Partidos Políticos. Diante dos quadros, digo: calma lá, há uma leitura que deveria ter mais importância para a imprensa. Vamos a ela: 

  1. A Polícia Militar, igrejas evangélicas, igreja católica e Forças Armadas têm mais imagem positiva do que negativa. É fato que as Forças Armadas, foco da imprensa, perderam 4 pontos em imagem negativa e ganharam 5 pontos negativos, mas como Instituição mantém-se com a imagem positiva e alguma gordura.
  2. O Supremo apresentou-se com 40% de imagem negativa e apenas 18% de positiva. Ele saiu de 33% de imagem negativa para 40% e perdeu 3 pontos em imagem positiva. 
  3. O Congresso Nacional está com 43% de imagem negativa, mas já teve 49%. A imagem positiva tem apenas 9%, vindo de 11% na pesquisa anterior. 
  4. Os partidos políticos estão com 54% de imagem negativa e apenas 4% de positiva. 

Portanto, o fato que mereceria destaque é: a população despreza o STF, o Congresso Nacional e os Partidos Políticos, tendo preferência pela fé e pela força. 

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O DINHEIRO (1 TIMÓTEO 6:10). 

“Mas é preciso viver. E viver não é brincadeira não. Quando o jeito é se virar, cada um trata de si. Irmão desconhece irmão“. (Pecado Capital – Paulinho da Viola) 

Tudo é motivo para fazer pesquisas e a imprensa anda ávida por notícias, Então, some-se isso e tem-se a matéria publicada pelo Estadão na edição de quinta-feira, 17 de agosto, no nobre espaço da primeira página, com a seguinte manchete: “País ganha, em média, 17 novos templos evangélicos por dia: entre 2015 e 2019, número passou de 20 mil para 109 mil”. Um gráfico colorido expõe os dados. O trabalho está assinado por um cientista político e não por um jornalista, Victor Araújo, um detalhe que dá à matéria o significado correto.  

O pesquisador aponta causas para o crescimento do número de igrejas pentecostais. Diz que o fato tem relação com o esvaziamento das igrejas católicas e com o surgimento de uma nova lei em 2003, a lei 10.825. Promulgada por Luiz Inácio Lula da Silva e por Márcio Thomaz Bastos, a lei equipara igrejas e partidos políticos. Outro detalhe presente de aproximação das seitas com a política.  

No entanto, entre as causas apontadas pelo cientista político falta a principal: as igrejas pentecostais são um ótimo negócio, sem chegarem a ser um “negócio da China”, pois por lá só valem os que não tornem as pessoas crédulas em outros deuses a não ser no comunismo, que anda em alta por aqui. Até o Presidente da República já se sente confortável com a alcunha. 

As igrejas pentecostais são pontos de arrecadação de dinheiro e não pagam impostos. Quase tudo que pagam fazem em dinheiro e ninguém cobra dos pastores e bispos, que prestem contas. Sim, pois nas igrejas pentecostais há bispos, um passo a mais na escala hierárquica, pois pastor é cuidador de ovelhas. Quem sabe, os bispos não sejam os que cuidam dos bodes? 

Está aí o motivo do enriquecimento rápido de alguns pastores e bispos. Os exemplos estão postos. Os fiéis suplicam a Deus por milagres, que os pastores e bispos dizem realizar e quando o feito não se completa o problema está na vida em pecado de quem clama. Coisa fácil de fazer. O dinheiro entregue aos líderes religiosos não vai pro céu, pois não tem como ir. Sobre isso, há uma velha piada contada também entre os pastores e bispos. Dizem que ao final de um culto, o dinheiro arrecadado é jogado para o alto e aquele que Deus pegar, será Dele. O que cair no chão terá outro destino, que poderá ser um avião particular, um iate, uma coleção de gravatas importadas ou banquetes regados a orações. 

É interessante perceber que o número de igrejas pentecostais também chamadas de evangélicas cresce como vinha crescendo o número de partidos políticos e não por coincidência o dinheiro está na fonte. O Fundo Partidário realizou o milagre da multiplicação. Hoje, há mais de 30 partidos com registro definitivo no TSE e a fila de pedidos cresce quase todo dia. O TSE negou vários, mas outros tantos ainda correm por lá. 

Contudo, como o dinheiro a ser dividido entre os partidos é o mesmo, os donos dos partidos ativos iniciaram o caminho para inibir a criação de novos sócios para o dinheiro público. Finalmente, entrou em vigor a esperada cláusula de barreira, pois uma vez que o “divisor” é o mesmo, que se mantenha ou se reduza o “dividendo”, para que a parte recebida por cada um não seja menor. 

Há, no entanto, uma diferença entre partidos e igrejas evangélicas pentecostais, quando a gente olha o crescimento no número de adeptos. Quase ninguém tem interesse na filiação aos partidos, pois o único milagre que eles operam é a eleição de alguns dos seus para bons empregos. Já as igrejas – ah! – nelas não faltam milagres. Existem para todos os gostos, desde a conquista de um bom emprego, a cura de uma doença, a compra de um carro novo, o dinheiro do aluguel do apartamento, que andava faltando e até um casamento bem arrumado e o aparecimento de um filho que não tinha jeito de nascer antes das orações.   

Quando o assunto é a conquista de membros ou filiados, os partidos sofrem como Martinho da Vila, que canta: “Dinheiro, pra quê dinheiro, se ela não me dá bola?” (Martinho da Vila). Já os pastores e bispos, esses que enriquecem rápido, ficam com Rita Lee: “Grana, Bufunfa, Dindin. O resto tá bacana pra mim”. 

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Romeu Zema deveria ter dito. 

15 de agosto de 2023.

Zema diz que não disse, mas se não disse, poderia ter dito, pois não existe dúvida de que as regiões norte e nordeste do Brasil exploram as demais e isso há bastante tempo. 

Contudo, é injusto considerar o povo do norte e do nordeste agentes exploradores do povo do sul e do sudeste, pois o desenvolvimento das duas regiões deve muito – bastante mesmo – aos retirantes nordestinos. A exploração, tanto do povo do nordeste, do norte, do sul, do sudeste e, mais recentemente, do Centro-Oeste, é um papel exercido exclusivamente pela elite antes conhecida pela patente de coronel.  

Meu pai nasceu em Gravatá, no interior de Pernambuco, cidade que fica a duas horas de Caetés, terra natal do Presidente Lula. Filhos do casal paupérrimo Ana Carolina e Maximino, meu pai e outros 11 irmãos trocaram o nordeste pelo Rio de Janeiro ainda na adolescência. A vida deles mostrou que decidiram bem. Depois, eles buscaram os pais. Lula foi para São Paulo, uma vez que em Pernambuco morreria de fome, como ele mesmo diz. E do mesmo modo aconteceu com uma grande multidão de nordestinos. Por lá ficaram os coronéis. 

Na edição de 11 de agosto, sexta-feira, o Estadão publicou uma matéria em forma de texto, do repórter Daniel Weterman Levy Teles, para repercutir a provocação do Governador Romeu Zema, de Minas Gerais, que atribuiu ao norte e nordeste a alcunha de “vaquinha  que produz pouco”.

Na matéria, o repórter informa que “Desde 2019, quando passaram a atuar em bloco, os 16 estados conseguiram receber da União R$123 bilhões a mais do que efetivamente arrecadaram”, enquanto, no mesmo período, o sul, sudeste e centro-oeste contribuíram com mais e receberam bem menos. Mas, a relação desigual sempre houve, com o argumento de equilibrar-se o desenvolvimento nacional. 

Nordestinos, sulistas, goianos, mineiros, somos todos brasileiros, diferenciados, em seus locais de nascimento, pela qualidade de vida oferecida pelas políticas públicas gerenciadas por aqueles que governam cada um desses lugares. 

Tomemos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nele estão os agregados de saúde, educação e renda representados em um ranking publicado pelo Atlas Brasil – www.atlasbrasil.org.br . Nele se vê o seguinte, em resumo: 

Em primeiro lugar está a Corte, o Distrito Federal. Natural! Em seguida, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro e Goiás. Depois, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Piauí, Bahia entremeados com cidades do Centro-Oeste. No fim da linha, no último lugar, está o Maranhão, estado governado pela família Sarney e nos últimos oito anos, pelo Ministro Flávio Dino.  

Ora, se o povo do nordeste e do norte vindo para o sul e sudeste, conseguiu contribuir para o desenvolvimento local e se por lá ficaram os coronéis, hoje líderes políticos, a quem devemos atribuir o insucesso das políticas públicas apesar de toda a grana transferida para lá? A resposta nos dirá quem é a “vaquinha que produz pouco” citada pelo Governador Romeu Zema. 

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“Réquiem de Terror” (Pedro Ernesto). 

“Nada certo, tudo hipótese, dúvidas, pressão, perseguição. Mal estar geral. Réquiem de Terror.”

Domingo, 23 de julho de 2023.

Os comunistas estão no governo federal, fato revelado com vaidade pelo Presidente Lula há poucos dias no Foro de São Paulo e confirmado pela presença da estrela maior da ordem, Senador Flávio Dino,  na pasta da Justiça e Segurança Pública. Eles tentaram chegar lá outras vezes, uma delas – talvez a primeira – na década de 30, quando foram impedidos pelo ditador Getúlio Vargas, que os usou para “extirpar” da política, os adversários que lhe faziam sombra, sendo eles comunistas ou não. O médico Pedro Ernesto, interventor no Rio de Janeiro e depois, prefeito eleito, cidadão não comunista, foi um deles. 

A história é contada com primor pelo escritor Thiago Cavaliere Mourelle, autor do livro “O Brasil a caminho do Estado Novo”, publicado em 2019. Doutor em História Política, Thiago escreveu o livro com base nas cartas que Pedro Ernesto enviou aos filhos, Yolanda e Odilon, durante o tempo em que esteve preso. As cartas foram entregues ao Thiago por uma neta de Pedro Ernesto, Helena Mossé. Na contracapa do livro está o objetivo da obra: “(…) oferecer ao leitor a experiência de tentar compreender todo o sofrimento e ansiedade de uma família que sofreu por mais de um ano com a prisão de seu pai e marido. Tensões, alegrias e tristezas perpassam as linhas das cartas(…).”

O médico Pedro Ernesto começou a lida política como aliado de Getúlio Vargas: “(…)logo estreitou laços com Vargas”, conta Thiago Cavaliere, “tornando-se amigo próximo. Após um acidente automobilístico, Pedro Ernesto salvou a vida de uma das filhas do presidente e, além disso, evitou que dona Darcy, esposa de Getúlio, tivesse uma de suas pernas amputadas – que era a orientação dos demais médicos que a atenderam”. Para colocar Getúlio Vargas na Presidência da República, Pedro Ernesto “foi um dos principais articuladores, na então Capital da República, das ações que derrubaram o presidente Washington Luís” , diz Thiago. 

Diz ainda Cavaliere: “A popularidade de Pedro Ernesto era algo poucas vezes vista na história da cidade do Rio de Janeiro. Com a redemocratização, a criação da Constituinte e a posterior promulgação da Constituição de 1934, o país voltava à normalidade democrática. A lei previa eleições para outubro daquele ano, em que seriam eleitos os legislativos estaduais – incluindo os vereadores do Distrito Federal – o que levou Pedro Ernesto, segundo a mesma praxe de outros governadores, a fundar um novo partido, alinhado aos ideais autointitulados “revolucionários” que pretendiam dar continuidade aos projetos iniciados a partir de 1930″. 

 Nada disso, contudo, facilitou a vida para Pedro Ernesto, quando ele fez sombra sobre Getúlio, que mandou acusá-lo de comunista e deixou que ele fosse preso sem julgamento, sem culpa formada, assim como fez com vários adversários. Tudo fez Getúlio em nome do combate ao comunismo. Uma conversa fiada, confirmada quando, adiante, ele, para permanecer no poder, voltou-se contra os integralistas, força de oposição aos comunistas. 

Sabe-se que dois elementos são essenciais para justificar um ditador: uma causa, que pareça em defesa da democracia e verdugos que lhes cumpram as ordens, pois os ditadores não são capazes de colocar a mão na massa. Eles não prendem, não cassam, não fazem buscas, não torturam nem matam. Mandam que alguém faça. Em havendo alguém que faça munido dos instrumentos certos, pronto, se tem um ditador.  

Para dar legitimidade aos atos de arbítrio, Getúlio Vargas contou com o apoio de um tribunal de exceção, criado por ele com o título de Tribunal de Segurança Nacional. O verdugo Filinto Muller, Chefe de Polícia de Getúlio Vargas, com o respaldo do tal Tribunal fez o diabo com os adversários do ditador. Ele levou à prisão e lá manteve pelo tempo que quis, todos os que o incomodavam. 

O livro relata as várias decisões de Getúlio Vargas e de seus bajuladores, para manter Pedro Ernesto preso, com o objetivo de enfraquecê-lo e obrigá-lo a renunciar ao cargo de Prefeito, que ele mantinha mesmo preso. Mas, tanto mais fizeram, mas a popularidade de Pedro Ernesto cresceu e o apoio dos vereadores e deputados a ele não arrefeceu. Getúlio Vargas, então, tirou a autonomia da Capital com uma intervenção estranha, pois mantinha no cargo o Vice-Prefeito, o padre Olímpio de Mello, seu aliado e autor do desmonte do trabalho que Pedro Ernesto realizou.  

As cartas anunciam Pedro Ernesto, hora enfraquecido, hora possuído de novas energias e esperança, ocasião em que ele era transferido de um canto para o outro, uma e recebia sinais de endurecimento do ambiente com novas prisões. Thiago Cavaliere abre o capítulo “Política e Sofrimento nos primeiros meses de detenção” com uma das cartas de Pedro Ernesto ao filho Odilon: “Meu querido filho, saúde e paz de espírito. Continuo na prisão aguardando a vontade de quem pode, mas felizmente não tive nenhuma fraqueza e garanto-lhe que não terei. (…). Não quero te falar em política porque está me causando muito nojo.(…). Dá um abraço em Odila, lembranças ao Mário e família e um saudoso abraço de teu pai que muito te estima.”

Adiante, há o trecho de uma outra carta do médico, também endereçada ao filho: “Não podes imaginar o que seja uma noite em um cárcere, é de destruir todas as resistências nervosas, líquida com todas as forças que dispomos, eu tenho sido um herói e há momentos que tendo a desanimar, mas felizmente reajo, e estou vencendo”. 

O Tribunal de Segurança Nacional levou mais de um ano para julgar Pedro Ernesto e o condenou mesmo diante de todas as provas e depoimentos que provaram a inocência dele. Ele foi absolvido na segunda instância, pelo Tribunal Militar e voltou à vida política, cheio de energia e vontade, acreditando que a normalidade democrática estava instaurada. Dois candidatos disputavam a Presidência, um pela situação e outro pela oposição, mas o ditador quis continuar no poder, instalou novo regime de exceção e devolveu Pedro Ernesto à prisão. 

Thiago Cavaliere conta: “Depois de um ano e cinco meses preso, por igual período longe da família e do filho exilado, aguardou um julgamento que parecia que nunca seria marcado. Viu alguns de seus adversários políticos tomarem seu lugar na prefeitura e outros atuarem dominantes no cenário nacional. Finalmente solto, quando o pesadelo parecia ter terminado, mais uma vez se viu detido, agora ao lado do filho. Se antes o problema era o Estado de Guerra e o tribunal de exceção, o problema havia tomado uma dimensão ainda mais grave: a partir de 10 de novembro de 1937 havia de fato um governo ditatorial contra o qual não havia meios legais de luta. Era a morte política de Pedro Ernesto.”

O médico faleceu no dia 10 de agosto de 1942, com 57 anos de idade, vítima de um câncer – “o intenso sofrimento, tristeza e decepção sofridos cansaram o corpo e o espírito”. Em Pedro Ernesto vejo sentido numa frase construída por Machado de Assis no Quincas Borba: “Ah, meu caro Rubião, isto de política pode ser comparado à paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; não falta nada, nem o discípulo que nega, nem o discípulo que vende. Coroa de espinhos, bofetadas, madeiro, e afinal morre-se na cruz das ideias, pregado pelos cravos da inveja, da calúnia e da ingratidão…”

Prisões ilegais, torturas, censura à liberdade de expressão, às\ imprensa; órgãos de imprensa à serviço do ditador, perseguições políticas, tudo isso está no livro de Thiago Cavaliere e justifica o nojo que Ulysses Guimarães disse ter da ditadura: “Ódio e nojo”. O livro do Thiago Cavaliere Mourelle chegou-me num bom momento, quando a coisa não anda boa na política brasileira e, daqui a pouco mais de um ano, estarei com o dever de votar em alguém para ocupar a cadeira que foi de Pedro Ernesto.